sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Prece por um amigo

 Meu Deus, 

Senhor dos destinos insondáveis dos homens,

confesso humildemente minha incapacidade de compreender a terminalidade da vida.
É tão difícil ter a valentia necessária para entender os ventos impetuosos da morte e enxergá-la metaforicamente como o sábio autor a descreveu: a curva que nos espera ao final da estrada...
Só peço que não permitais que aceitemos com naturalidade a partida prematura de nossos jovens. Que nunca nos falte a inquietação, o incômodo desassossego, a reflexão dos porquês. 
Ajudai-me a amadurecer a cada dia com as lições que a vida me proporcionar.
Que eu me transforme a partir dos acontecimentos e que estes não sejam em vão.
Que a medicina me ensine a calar quando me faltarem palavras e a amar com mais ternura porque nada pode ser tão urgente quanto o amor.
Que a belíssima inspiração do poeta gaúcho se cumpra entre nós...
  
“A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim..."

Mário Quintana, Poesia Completa.


Que os anjos do céu digam “amém” à doce rima de seus versos e os homens de boa vontade vivam motivados pelo objetivo de concretizá-la.

[Em homenagem ao querido Fabrício que faleceu ontem na Enfermaria de Moléstias Infecciosas do HC-UFU, às 10h02min numa manhã ensolarada como poucas. Infelizmente, os bons ainda continuam a morrer muito jovens]

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Inconcordantes

No princípio era só o verbo
latente em estado de silêncio.
Depois veio o sujeito
e com ele todos os erros de concordância.

Você chegou tirando histórias fantásticas
de dentro da sua mochila cheia de estilo,
como um narrador habilidoso de lendas encantadas.
Seu all star azul parecia o par perfeito para o meu preto de cano alto.
No fim, adoçou-me a boca enquanto nos divertíamos
tentando conjugar nossas agendas.
Depois, você saiu, num dia nublado, sem maiores explicações.
E me fez descobrir a tristeza,
essa vontade estranha de algo que ainda não inventaram.