quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Gerundismo- Ano 2013


Cobrando da Cardiologia uma explicação plausível para os sobressaltos agudos do miocárdio.

Pedindo a Deus um antiácido que cure refluxo e o desassossego próprio dos fins de tarde.

Deixando um espaço privilegiado na bagagem que carrego para as histórias que as cicatrizes dos meus joelhos contam.

Admirando a nudez que é assumir os próprios erros.

Caminhando devagar para que as manhãs durem mais.

Selando um acordo de paz com o travesseiro e reclamando menos da insônia.

Escolhendo fazer o certo, mesmo que dê mais trabalho.

Fazendo sala para o amor e servindo café da manhã para as esperanças.

Firmando metas de não cumprir tantas metas assim.

Entrando no jogo para ganhar, mesmo quando perder for inevitável. 

Colorindo as paredes do meu quarto com os desabafos calados do último ano.

Tendo mais compromissos com o coração do que com a agenda.

 Marcando um encontro romântico com o imprevisível.

Assumindo os riscos que realmente compensam.

Enfeitando os dias e esquecendo os porquês além da alegria.

Conformando com o fato de sempre perder as havaianas pela casa.

Frequentando a rua dos desiludidos, as quebradas da tristeza e o submundo da poesia.

Aconchegando-me nos braços dos abraços que me fazem bem.

 

Caro(a) leitor(a), que 2014 seja bem-vindo e traga recompensa para os corações perdidos. O único crime consentido seja o de matar alguém de saudade e a maior falta de respeito seja dizer “eu te amo” de boca cheia...

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Devaneios insones - Responda-me, amor!

     Ele era magro, tinha uma barba por fazer, um cabelo com ar ocasional de despenteado pelo vento, o queixo saliente, nome de rei medieval e gostava de couve-flor. Foi assim, enquanto tomava café da manhã, que Luísa começou ternamente descrevendo para sua mãe a imprevisibilidade do amor. Será que ele também é obcecado por bulas de remédio? Tem medo de nadar? Será que deixa as plantinhas morrerem por falta de cuidados e é obrigado a trabalhar nos finais de semana? Será que é realizado na profissão tanto quanto ela? Por acaso chora tarde da noite com medo de fracassar? Depois de um bombardeio de interrogações, era de se imaginar como o café de Luísa estava morno. Compensava saber, no entanto, que seu coração estava aquecido em fogo brando.  Ah! Será que ele também é viciado em café? Dorme tarde? Sonha acordado? Chora lendo poesia? Continuava se perguntando, depois de ganhar um beijo de despedida de sua mãe, agora já sozinha na cozinha...

     Luísa o imaginava como um céu raso que, embora parecesse perto, era inalcançável pelo rio de timidez entre ambos. Desenhava-lhe como um algodão doce que, embora irresistível no sabor, é artigo de luxo de tão difícil de achar. Bom mesmo seria se ele fosse seu vizinho para espioná-lo com a cara amassada de quem acabou de acordar através da sacada do seu prédio. Ah, será que ele também acorda de mau humor? Recupera fácil a alegria com um simples cartoon? Ri do vaga-lume ter uma lâmpada no bumbum e não precisar pagar conta de energia? Será que ele também sofre com as contas vencendo no final do mês ou nasceu em berço de ouro? Será que ele fica com as bochechas vermelhas quando é elogiado? Será que fica triste aos domingos? Faz análise para não surtar? Curte móveis antigos? Também desafina atravessando a melodia? Por acaso escuta um disco mil vezes até enjoar?

     Que dia ele viria avarandar o tédio de Luísa, desamedrontar seus medos e juntar suas angústias com as angústias dela?

     Consolava Luísa saber que a demora faz a espera ser melhor quando a lembrança é boa como um algodão doce derretendo na boca devagar...