segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Drive thru do Habib's

Você mora nas minhas lembranças mais inusitadas
sem nunca ainda, por ventura, ter ocupado a minha vida
porque é você que me assalta os pensamentos
e rouba minha imaginação na fila de espera do drive thru do Habib's,
enquanto escrevo esse poema no meu bloco de notas
aproveitando os últimos 15% de bateria que o meu corpo dispõe,
numa noite de domingo no caminho solitário de volta para casa
(que também podia ser sua),
depois de um longo e exaustivo final de semana de trabalho.

sábado, 27 de julho de 2019

Devaneios insones- Notívagos também amam

Se acordar no meio da noite fosse raro, eu não estaria aqui te dizendo tudo isso.
A verdade é que a noite funciona como um buraco negro desafiando a metafísica e nos engolindo para dentro dele.
As tarefas do dia seguinte não são mais urgentes do que a necessidade de reconhecer o quanto você ocupa o silêncio dessa madrugada. 
Sua foto está pregada na geladeira da minha cozinha ao lado de uma lista de compras que eu ainda não tive tempo de fazer. Penso no quanto você é fundamental para estar ocupando aquele lugar ali ao lado do lembrete sobre a minha necessidade vital de comprar café antes que ele acabe.   
Lembro que você dorme com lábios semicerrados, tem mania de suspirar quando o cansaço pesa e que gosta de travesseiro baixo porque sente dor nas costas. Tive vontade de te mandar uma mensagem dizendo que estou acordada pensando em você nesse momento, porém são três da manhã. Apesar da hora inapropriada, não sinto um impedimento definitivo e decidi não reprimir meu desejo. Escrevo que estou vagando pela casa sem sono tomando uma água gelada naquela caneca que você me deu de presente e pensando nos detalhes da última vez que nos vimos.
Muito provavelmente você verá essa mensagem somente pela manhã ao acordar.
Não tem problema, não tenho pressa. Pode ser no seu tempo.
Bom dia, amor!

domingo, 21 de abril de 2019

Trombofilia

Qual a consistência material do que você sente?
Prefere a fluidez de um sangue ralo ou a espessura de um trombo recente?
Você se contenta com simplesmente viver ou precisa pensar nas propriedades farmacológicas do que vive sentindo?
Você se orgulha mais de ter um corpo esguio ou um coração liquefeito que mal para em pé diante de tanto solavanco?
Quanto o seu histórico de tromboses venosas diz da sua trajetória de obstáculos pessoais?
Qual a composição do seu plasma?
Adianta anticoagular se não for recanalizar?
Qual a sua capacidade de construir colaterais?
O que mais te faz mal: turbulência ou estase?
Qual a reologia da sua superfície?
Já conseguiu aparar aquelas arestas? 
Consegue superar a fragilidade de uma hemácia?
“To bleed” e “to bless” só rimam ou conjugam dores semelhantes nos seus tempos verbais?

Não se preocupe. 
Não precisa responder tudo agora. 
Melhor acudir o leite que derramou sobre o fogão. 
Esse é o preço que se paga por ousar se distrair tempo demais com a poesia.