O mar recuou deixando os barcos atolados
na extensa e insólita faixa de areia
que a praia do Camaroeiro se transformou.
O litoral perde imediatamente sua serventia
se
as águas não retornam ao destino de servir
aos
destemidos sonhos dos pescadores caiçaras.
Parece que a lua cheia e os ventos soprando em paralelo à costa
explicam o fantástico fenômeno do inconsciente marítimo
e traduzem ainda melhor a miséria humana
que o surpreendente paredão de arranha-céus
lançando sombras sobre Camboriú,
a
Dubai brasileira.
A maré está baixa.
O
governo fascista destrói em poucos dias
as políticas
públicas que levaram décadas para implantação.
As temperaturas abaixam, ao passo que as geleiras continuam derretendo.
A
Amazônia diminui enquanto a fronteira agrícola avança e a fome cresce.
Se até a imponente Plataforma Lattes caiu,
deixando o mundo acadêmico perdido e sem sentido,
seria agora a hora e a vez do mercado dos afetos?
João que amou Raimundo, agora vive com Teresa.
Maria se declarou para Lili na mesmo noite
em
que Joaquim sonhava com J. Pinto Fernandes.
E você, Josefina?
Teria
tempo para uma quadrilha julhina?
Suportaria perder?
Na
vida,
no
mercado de trabalho,
na conjuntura
política,
nos espaços acadêmicos,
e no
amor?
(Se
da linguagem emerge o desejo, o trava-língua que dá título ao poema é homenagem à
metalinguagem dos tropeços.)