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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Da poeira aos detalhes

     Não me venha convencer que a lucidez é uma proposta racional. Sempre fui pouco convencional, até nisso. Até para acreditar no óbvio destino de uma felicidade politicamente correta. Sorrisos muito simpáticos nunca fizeram meu estilo, nem minha cabeça.
     Já me perdi em inúmeras das ruas que você diz conhecer todas as trilhas. Nas linhas do artesanato que faço, estou longe da pretensão de desvendar os contornos diversos das causas que me movem. Fui feita para bordados extensos, tecidos pra dentro, controversos. Dos versos, preferi sempre os contrários. Contraditória, a rima ao avesso, sem gesso enquanto teço mais um pequeno retalho de dor desses dias de tropeço. Os joelhos esfolados são apenas mais um dos detalhes, não repare.
     Costura, bordados, reparos. Ainda ando me confundindo nas cores que escolho. Na maioria das vezes, descombino. As alegrias são acontecimentos raros. Caros também.
     Gosto desse ar de museu de antigüidades que a vida me deu. Concessão sem direitos autorais, inclusive. O barulho que ecoa no recinto é só o suficiente para uma pausa no ensaio do silêncio. Depois, a penumbra entre luzes, o tempo da observação, o olhar feito para a demora. Cada um guarda o que pode e o que tem para guardar.
     Amontôo a vida pelos cantos. O tempo segue seu rumo, só eu não. Parei na poesia que não termina nem permite intervalos duradouros. Eterna só mesmo a espera. Enquanto isso, continuo envelhecendo aos poucos... Nessas páginas, lentamente.