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domingo, 12 de setembro de 2010

Enquanto o sono não vem

     A madrugada está longe de ser uma confidente confiável. O grão do sono desfaz segredos como a última gota de um cansaço de dias que nem na agenda constam mais. Um comentário, uma tentativa de desenho, um verso triste ainda pela metade e o pragmatismo de uma página inteira em branco.
     Sono esparso, sargaço em mares para uma viajante pouco satisfeita com os rumos dos últimos ventos. O barulho do relógio soa como uma sentença de que o tempo passa, sem passar por mim. Só deixa de modo imperdoável suas marcas, suas lascas e até algumas de suas farpas. Algumas doem, outras nem tanto, tantas que até desaprendi a esquecer.
     Acostumei-me à pergunta; ao olhar dos parecem sozinhos; aos inadequados, à cadeira de balanço, que de movimentos tão monótonos, mais parece uma metáfora ainda por terminar.
     Só sei que setembro ainda não cabe em mim, nem mesmo se tivesse 31 dias. Nem mesmo minha idade me cabe. Talvez tenha mais de quarenta, tamanha incongruência. Pareço mais com a cara melancólica do outono que dessa charmosa primavera. Das praças na hora do entardecer que dos jardins em manhãs ensolaradas. Levo mais jeito para os sonetos que para a rima livre. Sou mais do chorinho, do cafezinho amargo, do caderninho de anotações que se julgam poéticas pelo simples fato de escancararem pequenas sinceridades.
     Só peço que a última idéia que sair, apague, por gentileza, a derradeira luz ainda acesa. Já é tarde...

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