O amor é um cálculo que se hospeda nos seus rins
discretamente sem que você perceba.
Daí um belo dia resolve te abandonar,
sem aviso prévio, migrando violentamente
pelo ureter em direção à bexiga.
Uma pedra áspera de cálcio de alguns milímetros
que despenca rolando montanha abaixo,
como Sísifo às avessas,
desafiando sua empáfia de controle.
Te coloca em posição fetal
se contorcendo na cama
urinando sangue
enquanto você implora por analgésicos
associados com alguma coisa há mais
que te faça parar de vomitar.
Drummond disse no livro mais erótico de sua obra,
aquele que lhe faltou coragem de publicar enquanto estava vivo,
que o amor, como braseiro, lhe dava, via orgasmo,
a explicação do mundo.
Desde então, quase ninguém mais pensa assim.
Essa noite, por exemplo,
me equivoquei de novo redondamente
ao sonhar que te pegava no banheiro,
quando fui acordada pelos gritos do vizinho pedindo socorro
porque estava infartando no apartamento do lado.
Quando eu digo “amor!” e você me responde com “hum?!”,
o que nos garante que estamos falando da mesma coisa?
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