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segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Desenlace

O amor é um cálculo que se hospeda nos seus rins

discretamente sem que você perceba.

Daí um belo dia resolve te abandonar, 

sem aviso prévio, migrando violentamente 

pelo ureter em direção à bexiga.

Uma pedra áspera de cálcio de alguns milímetros 

que despenca rolando montanha abaixo,

como Sísifo às avessas, 

desafiando sua empáfia de controle.

Te coloca em posição fetal

se contorcendo na cama

urinando sangue

enquanto você implora por analgésicos

associados com alguma coisa há mais

que te faça parar de vomitar.  


Drummond disse no livro mais erótico de sua obra, 

aquele que lhe faltou coragem de publicar enquanto estava vivo, 

que o amor, como braseiro, lhe dava, via orgasmo, 

a explicação do mundo. 

Desde então, quase ninguém mais pensa assim. 

Essa noite, por exemplo, 

me equivoquei de novo redondamente 

ao sonhar que te pegava no banheiro, 

quando fui acordada pelos gritos do vizinho pedindo socorro 

porque estava infartando no apartamento do lado.  


Quando eu digo “amor!” e você me responde com “hum?!”, 

o que nos garante que estamos falando da mesma coisa?


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