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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Velejando


     Colha agora os frutos da desordem. Os mares revoltos acenam que terra firme a muito deixou de existir. O medo é convívio diário e a tristeza já tem sua marca impressa no veleiro. Sempre tive mais talento para a melancolia, nunca precisei esconder. Às vezes tento apagá-la, na maioria das vezes não. Deixo doer feito silêncio inconfesso.
      É o preço que se apaga por algumas inspirações.
     Não há ponto de partida nem destino de chegada. Moro na trajetória da estrada incerta, no incontável desejo do que ainda não sei mensurar, no terreno das palavras recriadas, na vibração de um som que teimo não desafinar.
     Escolhi para hoje uma letra de Caymmi, uma epifania de Clarice e um poema de Drummond.
     A monotonia veio dos teus olhos; o peso da vida, sim, eu aceito, é defeito de fábrica.
     Em medidas contadas, o tempo se encarrega de desfazer as mágoas. Ressaca das águas, das lágrimas também. Mistérios à deriva, a espera que os ventos tragam coragem para enfrentá-los. Ainda não me candidatei. Já fui mais pretensiosa, nisso, é verdade, melhorei...
      A vida me espera no cais. Os lampejos do farol não fazem do caminho mais seguro, nem a maresia mais suave. Mas nada tão difícil quanto compreender a essência das despedidas. Nas retinas do porto as cores da saudade têm contrastes trágicos e comoventes. Também um pouco de pressa.
 
“Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos...”


     E aceito o risco iminente de amar...


“É doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar ...”