Querida Patrícia,
Enfim chegaram seus vinte e oito
anos... Inevitável o clima de crise
existencial, mas perceba que as aflições são circunstanciais e podem ser abrandadas quando se
compreende que há, pelo menos, duas maneiras sábias de conceber a passagem do tempo. Uma
filosófica e outra prática. Como uma brisa leve que acaricia teus cabelos ou
como uma rajada impetuosa de vento que destelha a vida. O importante é passar
por cada experiência proporcionada com a transitoriedade que cada uma merece. Não se iluda nem se
aprisione num concretismo pessimista.
Que a maturidade do
presente não oculte teu riso irônico quando apontares teus próprios
defeitos nem te faça esquecer que o melhor aconchego é o colo que a gente mesmo
se oferece. É seguramente melhor ficar com rosto vermelho
por dois minutos do que com riso amarelo para o resto da vida. Saiba também que teus consideráveis cabelos brancos
não escondem a menina amedrontada que ainda teima em viver em você. Aquela
mesma criança de pijama florido que dormia com luz acesa pelo medo do escuro é
a mulher supostamente segura e independente de hoje que, de vez em quando, ainda chora pelos cantos dramaticamente agarrada
a um disco do Chico ou a um verso de Leminski.
Que você opte sempre
pelo certo, mesmo que dê mais trabalho. Que a medicina que você exerce seja cada dia mais tecnicamente
primorosa e humanamente flexível. Peço também
que nunca te falte disposição para fazer, sem culpa, um brigadeiro de panela após um dia exaustivo de trabalho. Reverencie
a vida como você se comprometeu a fazer
desde o princípio de tudo. Entenda, de uma vez por todas, que as coisas só darão
certo quando você conseguir equilibrar o lado “Clarice Lispector” com o lado “Drummond”. Poucos conseguem entender que
a vida é um grande karaokê de óperas. Leva tempo para apurar os ouvidos. Então,
tenha calma...
Durma mais cedo, amplie sua
coleção de pijamas, continue escrevendo cartas de amor... E apresente Cartola
aos teus filhos. Eles merecem ouvi-lo! Você sabe que crescer não significa só
abandonar o conforto do “all star” e começar a usar salto alto, mas garantir
que a poesia viva mais em teu peito que nas tuas gavetas.
A vida não oferece alternativas: ou você segue, ou você segue...
A vida não oferece alternativas: ou você segue, ou você segue...
Para tudo isso só me resta
desejar-te força e coragem com um abraço profundamente acolhedor, afinal nós
merecemos isso.
Da sua amiga Patrícia, de algum lugar do futuro.
Essa trilha sonora tem como único objetivo te recordar do conselho que você adotou como lema de vida: " Minha pequena Amélie, seus ossos não são feitos de vidro e você pode aguentar os golpes da vida”.
“A vida
começa quando a gente compreende que ela não dura muito”. Millôr Fernandes
4 comentários:
que lindo, querida! :)
parabéns de novo! que você tenha tudo o que você já sabe que precisa e um pouquinho mais! um beijão! ;*
Querida Paty! que saudades tenho de você e da sua poesia doce!!! que delícia ler esta carta que escreveu assim, pra si mesma....grande abraço!
queria paty!! que bom poder te reler novamente, que saudades de vc! e da sua delicada poesia!!!! fico feliz em poder te encontrar ao menor por aqui!! beijo
Honrada com a sua visita, Fabi! A gente tem que se encontrar mesmo pra falar de poesia e matar a saudade...
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