O quarto bagunçado de Luísa é uma boa representação do seu mundo
interior. Quem sabe também do frio que a obrigava enrolar-se num edredom feito
um rocambole de tristeza. Para que contrariar o relógio se a vida insistia em
convencê-la de que não passava de um imperdoável despertador sem a função
“soneca”?
Tinha convicção de que ou enfrentava os próprios medos com
pontualidade britânica ou acumulava insuportáveis repreensões do chefe a sua
coleção de troféus pelo primeiro lugar no campeonato dos piores fracassos da história. Mas, ainda assim, podia sentir orgulho por, apesar de sua nítida
preferência ao tragicômico e ao mais patético, ter magoado poucas
pessoas nesse mundo. Talvez pudesse contabilizar umas duas ou três maldades das quais ela
não conseguia se perdoar.
Convenhamos que, provavelmente, isso signifique pouco perto de um mundo em
que basta ter algum senso crítico para perder o ânimo de fazer
poesia sincera ou declarar-se com originalidade para algum sujeito com
atributos alternativos àquelas belezas geometricamente simétricas e
excessivamente fotográficas.
O próximo ato revolucionário de Luísa será pichar, escondido dos seus pais, o teto do seu quarto com letras garrafais:
"Por um mundo que dê vez aos que morrem de medo antes mesmo de começar. Voz nem precisa porque somos tímidos demais para isso!"
O próximo ato revolucionário de Luísa será pichar, escondido dos seus pais, o teto do seu quarto com letras garrafais:
"Por um mundo que dê vez aos que morrem de medo antes mesmo de começar. Voz nem precisa porque somos tímidos demais para isso!"
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