As tardes são mais tristes que as manhãs. Os deprimidos sabem disso. O dia cumpre a sina de se descolorir lentamente enquanto os primeiros retalhos de sombra caem sobre a terra e o céu se diverte brincando de fazer aquarela.
Caminho pela cidade calma sem pressa de voltar ao ofício de ser triste. Os carros poluem o ambiente enquanto eu despoluo a mente. As pessoas se trancam em casa para sacramentar a rotina sem surpresas enquanto eu teimo em me acidentar no amor que me desconcerta o tempo todo.
As cores do dia já começam a desbotar, assim como o que sobrou do último vinho, do perfume do derradeiro abraço, da música que não chegou ao fim...
As cores do dia já começam a desbotar, assim como o que sobrou do último vinho, do perfume do derradeiro abraço, da música que não chegou ao fim...
Partir é também uma forma de esquecer o coração partido em palavras que nunca foram ditas e de devolver-me ao que sobrou de mim. O que resta agora é apenas uma saudade aflita com um bilhete de viagem na mão e um ramalhete de gestos na outra.
Melhor assim. Talvez meu coração decida de vez embarcar numa estação distante, com destino às melhores manhãs que eu ainda tenho o direito de viver. Nem que seja só para ter o prazer de dizer que vou ser bem mais feliz que você. Ah, se vou!
[Este texto tem inspirações na música intitulada "Naquela Estação". Uma composição de Caetano Veloso, João Donato e Ronaldo Bastos. Sugiro a gravação memorável de Adriana Calcanhoto]