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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Monólogo particular

     Corta a arma a espera de cumprir seu fim. O fio da navalha ensaia mais um discurso diário de lamentos. Cinco minutos dedicados a um monólogo particular de queixas solitárias. Menos do que precisaria, certamente.
     Choros de dores não ossificadas, sem rosto definido, alojadas num lugar que não aprendeu a nomear. Sofrimentos sem motivos claros à espreita de alguns ares ensolarados pra variar. Quem sabe na próxima estação, insiste a se perguntar?!
     Histórias ancoradas, já um pouco cansadas de imaginar felicidades dedilhadas que nem sequer imaginou compor. A corda, o laço e o nó não desataram as duras amarras que ajudaram a impor.
     Menina, ainda, refugiou-se num cantinho escuro para soluçar as mágoas do não-acordo. Adormeceu ali entre papéis, promessas, tintas, poucos sonhos e saudades que, naquela data, decidiu esquecer. Não se enganaria, entretanto. Voltaria a acordar esperando o destino de noites marcadas para amanhecer. É um jeito de se manter sã, pelo menos até o momento de voltar a sorver-se nos velhos motivos aflitivos de antes.
     Por hora, contentar-se-á com alguma distração passageira. Quem sabe brincar de pintar a casa com cores de um entardecer melancólico de inverno. Distrair-se com a tristeza convidando-a para entrar.
     Mesa posta, talheres, copos e mais algumas minúcias que acabou esquecendo. De resto, só o detalhe das violetas tímidas na janela disfarçando a falta de móveis no ambiente. Acabou se acostumando com um coração de pequeno espaço. Os avisos na porta da geladeira não escondem a natureza dos últimos dias. Longos, frios...
     Menos encorpados que um vinho tinto.
     Menos densos que um discurso de botequim.
     Só um pouco mais pretensiosos em reclamar outros sabores, ultimamente.
     Mais adocicados. De preferência agridoce no final para não enjoar.