Não sabe aonde transita, mas chega lá mesmo assim.
Cansado de procurar coordenadas no chão,
termina sempre no mesmo vão de onde partiu.
As chegadas são iguais às largadas.
Só que mais desidratadas e exaustas que as partidas.
Nosso personagem de sentimentos tão nobres,
aproveita o breve sono da razão
e assume o comando da direção.
Enche a pista de postes de exclamação
e de reticentes e maiúsculos pontos de interrogação.
Estes mesmos que parecem um guarda-chuva,
mas não nos protegem das tempestades
nem das revoltosas desilusões do tempo.
Está escrito:
-Não ultrapasse na faixa contínua.
-Cuidado nas curvas fechadas com pista molhada.
-Ligue o farol nos dias de neblina.
Mas nosso imperfeito herói ignora
o letreiro luminoso com a palavra “PERIGO”.
Chega e entra sem licença poética...
Pede invariavelmente informações ao guardinha,
mas continua a ser perder na primeira esquina.
Pronto. Está feito o estrago.
Colisão frontal do desnudo ventrículo direito com o muro.
Depois saí meio atordoado e contudido,
tropeçando no próprio esboço de sorriso,
feito mais para dentro do que fora.
Promovera uma comovente e terna ocorrência policial
como só um idiota, contente e sarcástico, é capaz de fazer.
Por causa dele inventaram o seguro,
o reboque e o suporte avançado de vida.
Agradeçam-no, já!
...porque a a vida é cafona, meu amor! Para ler ao som de "Tu És o MDC da Minha Vida" (Raul Seixas).
[Metalinguagem da metalinguagem: 1) O suporte avançado de vida, mais conhecido pela sigla em inglês ACLS, foi criado pela
American Heart Association e consiste numa série de protocolos com manobras médicas (invasivas ou não) realizadas na
tentativa estabilizar clinicamente um paciente durante atendimento hospitalar. 2) Nos traumatismos torácicos fechados envolvendo alta energia cinética podem ocorrer contusões miocárdicas, sendo o ventrículo direito a câmara cardíaca mais acometida.]
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