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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Modus operandi


Não há serventia na poesia.
A questão central é para o que ela não serve.
Qual seu acento de honra no campo das inutilidades?
Ao contrário do que se possa imaginar,
ela não aumenta teu poder de sedução nem movimenta tua vida amorosa.
Pode inclusive tornar-te pouco prática para as coisas práticas da vida.
Ela não prepara tua torrada de manhã,
como também não te defende na frente do chefe dos teus constantes atrasos.
O mais certo é que ela não se fará de rogada 
na hora de servir teu pranto de bandeja no jantar.

Veja bem...
Clarice parecia uma mulher irremediavelmente noturna e melancólica,
Bandeira confessou ter medo da morte mesmo depois de conhecer a Pasárgada
e nem o Tejo e os quatro heterônimos salvaram o brilhante poeta português
da desassossegada saudade de sua aldeia.
Não se iluda.
O eu lírico viverá duelando com a pessoa jurídica.
A poesia não arruma tua cama, não frita teu hambúrguer nem gela tua bebida.
Agora, para todo o resto ela serve.
E muito bem!

4 comentários:

Paloma disse...

eu só tenho uma única e mísera coisa pra te falar sobre esse seu poema: PÁRA DE FODER COM O MERCADO DE BOTINAS!! você tá me fazendo quebrar no meu próprio comércio!!! hshaiushiuahiush!! Parabéns, querida! esplêndido! o/

Patrícia disse...

Eu quero mesmo é ser sua sócia, amiga! Vc me aceitaria? Vou fazer minha defesa:

1) A gente já escreve nos mesmos horários alternativos madrugada a fora;
2) Nossos olhinhos brilham numa metalinguagem;
3) Já estreamos nossa parceria no convite de formatura.

Que tal?

Hahaha...

Guilherme Gonçalves Damasceno disse...

Sempre me identifico ou identifico coisas que gosto em seus versos. Dessa vez, foi isso:

http://www.youtube.com/watch?v=T-iCzSsOZy4

Abraço.

Patrícia disse...

Rio ao ouvir Paulo Leminski sem nem saber por quê. Ele me comunica coisas que eu não sei explicar. Gargalho com suas comparações inusitadas e depois me calo...

Concordo (olha que pretensão a minha, rsrsrs...) com a ideia da utilidade como uma sentença de morte, uma impressão compulsória de prazo de validade, um aprisionamento criminoso. O poema é, na verdade, o que sobra sem poder faltar! Ele tem vida própria. Somos nós que dependemos dele para existir com um pouco mais de sentido.

Obrigada, Guilherme, pela sua visita e por trazer Leminski junto contigo.

Salve o grande mestre! Que ele nos ensine a esquecer os porquês-além-da-alegria.

Um abraço.