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terça-feira, 13 de outubro de 2009

Eu prefiro a beleza


     Não sou a favor de nenhum tipo de idealização. Projeções só servem para nos enxergam melhores ou piores do que realmente somos. Mas alguns termos são inadmissíveis! Já se usou cachorra, égua, popozuda, lacraia e ainda estamos no tempo das mulheres frutas. E pensar que os pomares já foram recursos líricos e fonte de inspiração de tantos poetas...
     Essas são as “metáforas” dos compositores que ganham a mídia e que ouvimos cantar por aí. Eu, sinceramente, acho essa história mais do que uma simples exaltação ao mau gosto. É insulto mesmo! E da pior espécie! Um lixo musical que vão vomitando em nossos ouvidos como se não soubéssemos o que é ter bom gosto. E nós nem reagimos... Ao contrário, passamos indiferentes porque pensamos, ingenuamente, que aquilo não toca na nossa casa, no nosso carro, nas festas que freqüentamos e, portanto, não nos atinge.
     Não importa qual seja o seu gosto ou estilo musical preferido: jazz, axé, pagode, forró, rock ou qualquer um outro. Não se trata disso, mas da intenção que o "produto" tem ao ser colocado para o "consumo".
     Vivemos uma época em que as mulheres comemoram muitas vitórias nascidas de lutas corajosas contra as concepções machistas entranhadas no mundo e prosseguem conscientes de que há ainda muito que fazer. Conquistar inclusive espaço nas academias de letras, no cinema, na produção de discos, no combate à exploração sexual, no direito a uma assitência integral à saúde. Mas o que vemos é uma contracultura que insiste em banalizar a mulher rebaixando-a a uma condição de animal irracional, de fruta comestível. Lógica bastante descartável por sinal. Declarada reificação do corpo, perda completa da identidade do que é ser feminina, deturpação completa do que é sensualidade.
     De quem é a maior vergonha: do compositor que oferece essa “pérola” ou de quem a canta?
     Peço que pelo menos pense nisso, pois é preciso ter cuidado! Podem estar menosprezando nossa inteligência e nossa capacidade reflexiva. O que mais existe por aí é indústria de cultura enlatada. E quem se acostuma demais com enlatados industrializados fáceis pode depois rejeitar a outra comida porque acabou esquecendo da riqueza de possibilidades que podia usufruir e passar a se contentar com uma "vidinha" acomodada , sem muito esforço de reflexão. Vão se tornando pessoas preguiçosas , conformadas , mais ou menos ...
     Você, o que espera da música? Admiti algo menor que a arte, a transcendência? Eu quero beleza!
     Muitos compositores e intérpretes ainda hoje amargam o dissabor de não terem espaço na mídia ou serem esquecidos pelo grande público. A conseqüência disso é o processo de total desconhecimento de uma fina produção cultural que o Brasil tem e não chega aos nossos ouvidos, porque eles, não raramente, já estão entulhados por demais.
     É preciso ter a consciência de que é a identidade de nosso país que somos privados de conhecer. Deixamos de conhecer a nós mesmos e nossos vários rostos expressos na diversidade das inúmeras produções artísticas que não alcançam repercussão. O consolo é que o talento de muita gente ainda continua a resistir bravamente produzindo cultura, cinema, cantando e compondo enquanto lutam criativamente para sobreviver no meio dito alternativo/independente.
     Lamentavelmente, o fato é que os maiores perdedores dessa história somos todos nós, a cultura nacional e a sensibilidade humana que deixa de provar belezas raras que nunca serão descobertas enquanto estiverem sendo massacradas pelo barulho ensurdecedor da “velocidade 5” .
     Não comprar, não ouvir e não divulgar é uma forma de exigir respeito à nossa inteligência e ao nosso desejo sincero de beleza. Nós merecemos respeito. É só exigir! Eu assumo minha opção: a favor da arte, da beleza, do bom gosto, da música que faz pensar, da televisão e cinema inteligentes e do boicote ao mau gosto.