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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Metalinguagem

     A poesia é uma espécie de transfiguração. A ela foi concedido o poder de reestabelecer suavemente o desejo e a alegria perdidos. Sempre em pequenas doses vitais.
     Nela é possível depositar os cansaços que nos assombram. Nisto talvez resida o papel mais importante da arte: o descanso do existir sem tréguas.
     Hoje relembrei dos versos de Helena Kolody: “Meu nome, desenho a giz no muro do tempo. Choveu, sumiu”. Misto de dor e contentamento num único traçado.
     O verso simples da mulher paranaense, solteira e sem filhos, ainda pouco conhecida pelos leitores de poesia, me fez pensar na vida como muro que se escreve a giz. Aprendi a não ter medo de passar. Escolhi viver com o mínimo de ilusões. Sou apenas aquilo que posso.
     Não sou Helena, mas absorvo seu poema enquanto expressão lírica e existencial. O seu escrito, por hora, é meu. Acomoda-se onde em mim é mais solitário e ali resolve morar. Uma pungente dor que alivia no ato de se permitir doer. Não ilude, não anestesia, dói e, por vezes, cura.
     Um poema de hora em hora é uma prescrição médica que tenho o prazer de cumprir.
    O poema é revelação. O silêncio é rompido e os poetas vêm nos visitar. Hoje o dia foi de Helena Kolody e sua linguagem em forma de melodia. Sublime e discreta  Versos curtos e musicais.
     De resto, correr para quê? Para apagar a luz? Para pagar as contas? Para estudar para a prova? Não. Não é preciso ir a nenhum lugar. O tempo é minha porta. Por ele entro e saio quando quero.