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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Cartão de visita

Por favor,
tome cuidado onde pisa,
por onde passa.
Meu coração não é praça,
espaço público, lugar de ninguém.
Nem ache que vai me agradar jogando um vintém.
Agora que sabe disso,
se quiser entrar...
Seja bem-vindo ao meu lugar!
Olhares lá da soleira da porta não importam.
São rasos demais.
Entre no recinto e explore o ambiente.
Não viva de meios, 
subterfúgios passageiros, 
encontros marcados para ir embora.
Permita-se mais que meros esbarrões nas pessoas.
Observe com calma a inconclusão das falas
e o brilho dos olhares.
Há muito conteúdo raro atrás de um silêncio aparente.
Porque a pressa se ela não combina com desejos de descoberta.
Uma casa é feita de muitos quartos.
Queira visitar todos eles atento aos detalhes.
Não estranhe se a de-coração é contrastante,
absurdo seria se não houvesse a multiplicidade do eu.
Em sua solidão, habitação ainda inabitada, presença-ausente.
O coração é casa-lugar de muitos desejos.
Pulsando ora confessáveis, ora inconfessáveis.
Em estado de silêncio e mistério.
Sinuosos, outrora sinceros.
Simples e no mais absurdo exagero.
Convictos embora, às vezes, hesitantes.
Deveras sim, deveras não.
O amor cumpre a sina de aproximar-se do precário,
do mais frágil e imperfeito realce.
Não há mais razão para medos.
Está abolida a necessidade de personagens.
Pausa para um suspiro...
...Alívio...
Posso ser apenas aquilo que posso.
Nada mais.
O aperfeiçoamento é fruto mais tardio,
de cultivos mais demorados.
Desdobramentos secretos de sabores reais.
Com aroma de acolhimento e canela
para ser degustado lentamente.
A dois...