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domingo, 23 de janeiro de 2011

Reedição- parte 2

Curta

 
Os jardins são meros enfeites cinematográficos.
Entre disfarces e holofotes,
os olhos não escondem a desolação.
Nem as flores tristonhas,
as cores fatigadas de tanta educação.
Vontade de bater em outras portas,
cortar outras cordas,
cantarolar outras notas,
aventurar outro eu.
Reverso, inverso, avesso de mim.

O curta-metragem adentra a madrugada.
Não há ainda linguagem que satisfaça a personagem.
Elegantes, as cortinas irão se abrir...
[No ar o afã de um querer inquieto]
...para as cenas do melodrama da vertigem.
[Cinema e teatro no divã da metalinguagem]
Ao vivo, meio improviso, no palco de um cenário alternativo.
Uma sala, uma mala, uma suposta calma.

Só as antíteses são levadas a sério.
Anti-herói, anti-horário, antipático, antiquado,
Antiquário, antivírus, antídoto, antimônio.
Se anjo, torto.
Se santo, louco.
Se fogo, alto.
Se vôo, aos poucos.

Horas passadas,
quase assadas em banho-maria de tão mornas.
Roteiro pela metade,
sem consistência de argumento,
quase uma desistência súbita
ou pedido de demissão sumária.
Sem rima, sem diária nem nada.
Peça fora do tabuleiro.
Palhaço sem picadeiro.
Samba sem pandeiro.
Agora, contentar-se-á com desfecho derradeiro.

O fracasso é discurso recalcado, enredo mal contado.
Fecha a conta e deixa alguém administrando o saldo.
Respeitável público, o sucesso de bilheteria é ali do lado.
Legenda em português, romance burguês, bem ao gosto do freguês.
Do lado de cá, a rima é pobre e desinteressante.
O mocinho é de esquerda, sofre de espinha no rosto e crônica timidez.
A atriz é baixinha e está fora de forma outra vez.
Quanto à história?
Nada de mais.
Só aquela que o instante fez.
Cotidiano possível, sem ensaios...
Bem menos arrebatador que um final feliz.

Curta-metragem, produção independente
Duração: alguns minutos de poesia-experimental
Gênero: melodrama
Ano: 2010.

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