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sábado, 29 de janeiro de 2011

Subversão gramatical

O verbo se desfez dos objetos.
Direta ou indiretamente,
pouco a pouco, circunstanciou-se de projetos.
Discretos, modestos atributos de um sujeito oculto.
A sintaxe anda à procura
do significado que transcenda o singelo vocábulo.
Fruto de estação, antes flor de rara ocasião.
Espera também o acento, o grifo, o ouvido atento do leitor.
Conjuga-se:
no tempo, irregular;
na pessoa, plural;
num imperativo de modos,
na abstração mais-que-perfeita da imaginação.

A linguagem figura soberana no centro do salão
enquanto encarrega-se de fazer:
a metáfora perder a hora,
a hipérbole destemer o desejo
o anacoluto verso endireitar-se,
a parte pelo todo,
o continente transbordar conteúdo.
O poema aprofunda o absurdo confesso,
sem falsa censura,
num paradoxal discurso diminuto
de gestos econômicos e sinestésicos.

Em desacordo com a moderna ortografia,
a regência concordou com a regra da exceção
como se a coerência não se importasse mais
em seguir os ditames pouco concessivos da razão.
Facultou suscinta a lição
sem "como" e nem "porquês".

O lúmen da alma do poeta,
ainda que severo ateu,
é deveras oração.
Ora rascunhada numa incoordenada lamentação.
Esta debulhada em lágrimas substantivas,
ainda resquícios de reduzida subordinação.
Ora, coletiva sublimação,
quase um locução adverbial de afirmação
com efeito de verdade.
De fato, verbo em permanente mudança de estado...
Subversão!

[A autora em franco devaneio gramatical]

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